Silvana Figueiredo Tavares




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9 de agosto de 2012

Confusão de Bicos Artificiais Por Dr. Carlos González



"Todo mundo sabe que quando os bebês se acostumam à mamadeira podem acabar deixando o peito. Muitas mães dizem: enjoou o peito. A explicação mais popular é que como a mamadeira é mais fácil, se tornam preguiçosos e não querem se esforçar com o peito.
Mas isso não é certo. A mamadeira não é mais fácil. Vários estudos, tanto em bebês prematuros como em bebês com graves deformações cardíacas, demostram que a frequência cardíaca e respiratória e o nível de oxigênio no sangue se mantem mais estáveis quando mamam no peito que quando tomam uma mamadeira. Os bebês nascem para mamar, seus músculos e reflexos estão especialmente desenhados para isso, enquanto que tomar uma mamadeira requer uma aprendizagem específica.

O problema não é que seja mais fácil ou mais difícil, se não que é diferente. O leite que há de ordenhar do peito, exceto as poucas gotas que saem só, e para isso a língua tem que empurrar ritmicamente até atrás. Além de ordenhar o leite, este movimento tende a introduzir o peito cada vez mais na boca, o que a sua vez permite ao bebê mamar melhor. Da mamadeira, ao contrário, o leite sai só, o bebê deve conseguir impedir que saia para poder engolir o que já tem na boca. Com a mamadeira, a língua se move ritmicamente até a frente. Este movimento tende a sacar a mamadeira fora da boca. Para impedir isso, todos os bicos artificiais do mundo se alargam na ponta, formando uma espécie de bola (para impedir que aqueles saiam da boca). Detrás dessa bola, o bico fica estreito, para que o bebê possa tomar a mamadeira com a boca quase fechada, se abrisse tanto a boca como para tomar o peito, de nada lhe serviria a bola, e a mamadeira se escaparia de uma forma ou de outra.

Alguns bebês maiores alternam sem nenhum problema peito e mamadeira (ou chupeta), fazem cada vez os movimentos precisos com a língua e com os lábios. Mas nas primeiras semanas são muitos os que se confundem, se tomam bem um e não aprendem com o outro. Durantes os primeiros dias, muitas mães dizem: todo o tempo está pedindo peito, mas não existe forma de que pegue a chupeta. (todo o tempo significa aqui antes de três horas) e muitas outras exclamam: não quer mamar e não entendo o que passa, porque todo o tempo está chupando a chupeta (e claro, a típica explicação: não quer o peito porque não sai nada, não é válida; nunca saiu nada de uma chupeta, e bem que a chupam).


A primeira vez que lhe dão uma mamadeira ao um recém-nascido (por exemplo, quando em meio de uma noite alguém decide lhe dar uma mamadeira para que não despertar a mãe), muitas vezes, o bebê não a quer. Aparte de que o leite sai raro e o bico também, e está duro e tem uma forma estranha, quando tentar mamar como se fosse o peito, o leite sai a tal velocidade que se engasga. O bebê expulsa o bico, cuspindo e chorando. Mas a enfermeira continua insistindo. A enfermeira carinhosa fala: “não é nada, esta menina tão esperta vai tomar o seu leitinho”, a enfermeira mal humorada fala: “visto que está bem de fazer palhaçada”, mas as duas insistem. Depois de uns segundos de angústia a bebê descobre que fazendo assim ou assado com a língua não se engasga. “Muito bem, vê que fácil? Fala uma enfermeira, “vê como era historia?” ,fala a outra.

Horas mais tarde, quando levam o recém-nascido com a sua mãe, penso o que mais tarde dirá cem vezes: “olha, mamãe, olha que sei fazer! Tenta fazer com o peito o que acaba de aprender com a mamadeira, empurrando com a língua. Surpresa e consternação, o peite sai da sua boca. Porque os peito não tem bola, todos os peitos do mundo acabam em ponta.

“ Me repeli o peito, chorando”, fala a atribulada mãe. Exausta depois do parto, em pleno furacão hormonal, presa da tristeza pós-parto (mais leve, mas muito mais frequente que a depressão), a mãe em realidade está dizendo: “me repeli o peito. Chorando”. Se sente rejeitada pelo próprio filho. É possível cair mais abaixo? “Não se preocupe” já se ajeitará, fala a enfermeira carinhosa. “Claro, porque você não tem leite”, fala a enfermeira mal humorada. Levam o bebê e lhe dão uma outra mamadeira. É o princípio do fim.


Alguns médicos insistem em que a confusão de bicos não existe, e em que dar uma ou várias mamadeiras ao recém-nascido não prejudica para nada a lactância materna. O certo é que não existem provas experimentais, porque para isso havia que dar-lhes mamadeiras a propósito a um grupo de bebês, escolhidos ao azar, para ver o que passa. Os que acreditam que isso não é mal, não se dão ao trabalho de fazer o estudo, os que acreditam que sim, que é mal, pensou que não seria ético fazer um estudo assim.

“Que mais dá que exista ou não exista?” Pensará o leitor, ante a dúvida, melhor não dar-lhe mamadeira e pronto. Pois parece que alguns dos que não acreditam na confusão recomendam dar-lhes a todos os bebês de peito uma mamadeira a cada semana, como mínimo, para que se acostumem. Porque se não, quando a mãe volte a trabalhar, ou qualquer outro motivo tenha que sair de casa, o bebê rechaçará a mamadeira. Vamos, que reconhecem que a confusão funciona ao menos em um sentido, e que o bebê que se acostuma ao peito logo rejeita a mamadeira.

Carlos González (2009). Comer, Amar, Amar. Madrid: Temasdehoy, p.288-291
Tradução: Sandra - Moderadora GVA